Correr Pra Trás. Perdi Mais Uma Vez

Discussão em 'Papo furado' iniciado por Fábio Jr, 08 de Abril de 2009.

  1. Fábio Jr

    Fábio Jr A Vida é Um Fator Incontrolável

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    Correr Pra Trás. Perdi Mais Uma Vez

    Perdi o senso da minha normalidade mórbida, enlouquecendo-me por completo, fazendo, de mim, um corpo repleto de virtudes ridículas que mais parecem defeitos.

    Meus defeitos de virtude é tudo que eu possa alcançar em minha vida.

    Minhas virtudes defeituosas, se assim posso dizer, na realidade pura e nobre, não passam de desculpas e motivos que me fazem entristecer a todos, sempre sem querer.

    Ganhei mais uma vez.

    Ganhei alguns quilos a mais na minha, já gorda, obesa e grosseira, irresponsabilidade. Consegui ganhar o afeto da má sorte e o carinho da infelicidade.

    Ontem mesmo, foi tão bonito quando o azar virou-se pra mim e se atracou em meus ombros, ou, ante ontem, quando a infelicidade puxou e arrancou meus olhos com tanto carinho que só não chorei lágrimas salgadas, porque não mais possuía olhos para chorar, apenas o que desceu foram lágrimas de sangue, com seu gosto de ferrugem, coalhado de amargura e desmazelo.

    Senti o amor do medo quando fez arrepiar minha espinha, percebi a paixão do ódio por inanição, percebi que tudo na vida são flores que criam suas raízes em um terreno onde só enxergo fezes.
    Vi a sombra do arrependimento, e posso lhes dizer, é triste, enfadonho e um tanto mentiroso, pois consegui enxergar a alma dos arrependidos, porém, não vi seus olhos. Não tinha rosto, tampouco possuía uma língua para defender-se.

    Quando acordei, senti a meiguice da vergonha e a ternura de seus pequenos olhos, corroendo minha humilde alma, querendo me fazer carícias com seu horrendo olhar piedoso, querendo me esmigalhar com seu afago.

    Quando me olhei diante do espelho, enxerguei através da minha imagem, e consegui sentir o peso da maldade que tenho em meu cansado, abatido, batido e moído coração, e vi as costelas da malvadeza, notei os ossos de sua face. Imagem do inferno. Percebi que não possuo maldade, pois, não a alimento, e pelo menos ela anda em baixa comigo. Graças a mim.

    Quando consegui acordar de verdade, senti que tudo na vida são escolhas, e eu, mais uma vez, infelizmente, humilhantemente, sem ter razão, acertei a escolha errada de maneira correta. E fiz tudo certo, porém, de algum modo tristemente errado.

    Ganhei beijos e abraços das minhas virtudes defeituosas, e reciprocamente devolvi, contudo, já era tarde demais para correr de volta pra trás.
  2. Fernando Zimmermann

    Fernando Zimmermann Administrador

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    Fábio Jr,

    Advogados poetas produzem grandes sacadas que fazem sensibilizar o juiz de uma forma inesperada. Transcrevo um caso, tido por verídico, publicado no site http://www.paginalegal.com/marcador/violao/ :

    Corria a década de 60 quando a polícia de Campina Grande (PB) apreendeu o violão de um grupo de boêmios que fazia uma serenata.

    Estes procuraram o advogado Ronaldo Cunha Lima, então recém-formado, também apreciador de serestas, que depois seria governador, senador e deputado federal.

    O advogado endereçou ao juiz uma petição nos seguintes termos:


    “HABEAS PINHO”

    O instrumento do crime que se arrola
    Neste processo de contravenção
    Não é faca, revólver, nem pistola.
    É simplesmente, doutor, um violão.

    Um violão, doutor, que na verdade,
    Não matou nem feriu um cidadão.
    Feriu, si, a sensibilidade
    De quem ouviu vibrar na solidão.

    O violão é sempre uma ternura,
    Instrumento de amor e de saudade,
    O crime a ele nunca se mistura,
    Inexiste entre ambos afinidade.

    O violão é próprio dos cantores,
    Dos menestréis de alma enternecida,
    Que cantam as mágoas que povoam a vida
    E sufocam as suas próprias dores.

    O violão é música, é canção,
    É sentimento, vida e alegria,
    É pureza, é nectar que extasia,
    É adorno espiritual do coração.

    Seu viver, como o nosso, é transitório;
    Mas, seu destino não, se perpetua,
    Ele nasceu para cantar na rua
    E não pra ser arquivo de cartório.

    Mande soltá-lo pelo amor da noite,
    Que se sente vazia em suas horas,
    Pra que volte a sentir o terno açoite
    De suas cordas leves e sonoras.

    Libere o violão, Dr. Juiz,
    Em nome da justiça e do Direito.
    É crime, porventura, o infeliz
    Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

    Será crime e, afinal, será pecado,
    Será delito de tão vis horrores,
    Perambular na rua um desgraçado,
    Derramando na praça as suas dores?

    É o apelo que aqui lhe dirigimos,
    Na certeza de seu acolhimento.
    Juntada desta aos auto, nós pedimos
    E pedimos também deferimento.

    O juiz, Dr. Artur Moura, sensibilizado, deferiu a petição do poeta no mesmo tom:

    Para que eu não carregue
    Remorso no coração,
    Determino que se entregue
    Ao seu dono o violão.

    (Colaboração de José da Silva, de Fortaleza)

    Atualização (em 19/04/2008): os parágrafos introdutórios foram reescritos, com informações do blog Legal.adv.br

    Atualização (em 17/06/2008): o primeiro parágrafo foi reescrito, com informações que a leitora Erika deixou nos comentários.


    Fonte: http://www.paginalegal.com/marcador/violao/
  3. drrafaelfeliciojr

    drrafaelfeliciojr Membro Pleno

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    Mais uma grande obra do nosso poeteiro. ;)

    Parabéns.
  4. Fábio Jr

    Fábio Jr A Vida é Um Fator Incontrolável

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    Nuss grande advogado poeta!

    E é mesmo as vezes, não só os poetas, mas sua grande maioria, possuem lampejos de boas frases de efeito!
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