Advogado iniciante - Me ajude a não desistir da profissão!

Discussão em 'Empreendedorismo na Advocacia' iniciado por Gabriel Altran, 01 de Maio de 2019.

  1. Gabriel Altran

    Gabriel Altran Membro Pleno

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    Olá, sou um jovem advogado, tenho 26 anos, tenho OAB desde agosto de 2018. Em uma breve síntese, minha vida foi basicamente assim: não sou rico, durante a faculdade estagiava, dinheiro com o qual tinha que pagar meu ônibus e ajudar nas contas de casa e pagar as minhas contas (ou seja, não consegui guardar nada).

    Após me formar em 2017, passei na OAB em 2018 e desde então me lancei na advocacia. Nos 6 primeiros meses eu trabalhava em casa com parceria com um escritório de advocacia, eles me passavam algumas ações e eu trabalhava de casa.

    Posteriormente este escritório mudou de prédio, um prédio mais amplo, o qual fui convidado a trabalhar junto, sendo que todas as despesas seriam dividas, tendo um acordo de honorários que realmente valha a pena (pelos número).

    Ocorre que, estou com muitos problemas na questão financeira, pois está dificil me manter e continuar trabalhando. Tenho em média cerca de R$ 900,00 de dívidas mensais com o escritório, onde que, apesar de ter bastante trabalho, com muito custo consigo pagar este valor mensal. Além disso, tenho outras dívidas pessoais como FIES, anuidade da OAB, algumas contas pessoais, tenho que ajudar em casa, sendo que estas contas não consigo pagar por não estar rendendo a advocacia pra mim. O que me ajuda financeiramente as vezes são trabalhos que faço como músico (o que me rende cerca de 150,00 a cada 2 meses), faço trabalhos de academicos de direito ou então, quando a coisa aperta demais, acabo vendendo itens pessoais.

    As contas estão muito altas e apertadas, não quero pedir empréstimo bancário pois sei que morreria com os juros e não sei mais o que fazer.

    Sinto que estou muito desanimado e frustrado com o fato de não ter dinheiro e o fato de que muitos clientes devem e não pagam, além de que as contas vencem e não me entra dinheiro para pagar. Meus pais não tem condições financerias pra me ajudar a pagar as contas do escritório, além de que já tenho 26 anos e não quero depender mais deles. Eu sei que a advocacia demora girar dinheiro, porém me sinto muito incapaz, inseguro, já não tenho mais a garra e o animo de me levantar e ir para o escritório batalhar.

    Alguém poderia me ajudar com algumas palavras de incentivo ou me ajudar no que fazer para tentar vencer neste meio e que eu não decida por vez desistir da advocacia e trabalhar em qualquer outra coisa?
    Gabriel Iago curtiu isso.
  2. Fernando Zimmermann

    Fernando Zimmermann Administrador

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    Boa noite,

    Saber cobrar e se vender, ver seu negócio como é - algo que deve ter lucro, se valorizar e saber justificar racionalmente e honestamente seu preço. Ver que ter lucro não é pecado, ganhar bem não é pecado, ao contrário, é o bônus do mérito e de quem trabalha bem.

    Em resumo, algo que não se ensina na faculdade - ter visão, comportamento e tino de empresário. Aprenda sobre empreendedorismo.

    Uma parte importante do negócio é o que você faz quando está de frente para o computador, é o que fundamenta seu profissionalismo; mas outra igualmente ou até mais importante é o que você faz fora do escritório ou quando está de frente para o cliente e sua postura.

    Dinamismo, transparecer confiança e tranquilidade ante os problemas, mostrar que você é do time do cliente.

    Nosso material de trabalho são os problemas dos outros, atuamos só quando há problemas. Ninguém procura um advogado quando está feliz, sempre é porque está com medo ou com raiva. O cliente quando nos procura nunca está em seu estado normal de ânimo. Entenda que ele quer uma solução, uma esperança, real e honesta.

    Esteja à disposição, responda rápido, atenda ligações imediatamente, assuma responsabilidades, o negócio é com você mesmo, feche arestas, não se prenda a teorias abstratas, vá na veia do problema, faça o que funciona na prática e não o que fica bonito no papel.

    Saiba cobrar. Isso é muito importante. Cobro pelo menos metade do valor na assinatura do contrato, antes de entrar com ação, ou então financio no cartão de crédito com aquelas maquininhas do pagseguro. Quem não paga não merece seu serviço; sua parte é trabalhar bem, a do cliente é pagar e só há serviço para quem paga.

    Não tenha medo do desconhecido. Conheça até onde vai sua habilidade de não saber no momento exatamente qual a saída jurídica de algo, mas de saber que com 2 horas de pesquisa no máximo, você achará a saída ideal.

    Seja bom, não se contente com o mediano, trabalhe de uma forma que você olhará para trás e terá orgulho do que fez.

    Abraços e boa sorte
    Fabiano Souza curtiu isso.
  3. cimerio

    cimerio Membro Pleno

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    Prezado, bom dia.
    Primeiramente, estou admirado com sua coragem e humildade, afinal, não é fácil expor questões desta natureza.
    Olha, não adianta eu chegar aqui e falar um monte de coisas bonitas para que você se sinta melhor. Sempre digo que dinheiro que é a coisa mais importante das menos importantes, num trocadilho que faço com a famosa frase “il calcio è la cosa più importante delle cose non importanti“, que traduzindo é "o futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes", do técnico vice-campeão mundial pela seleção italiana na Copa de 94, Arrigo Sacchi.
    As dicas do colega Zimmermann são valiosas e creio que sou um exemplo do que ele disse. Eu tenho 7 anos de formado, mas sou bem mais velho que você, pois entrei na faculdade aos 30 anos depois de ficar mais de 10 anos "trocando cebolas" como empresário. Nesse período em que eu era empresário, chequei a ter quase 10 empregados, mas nunca sobrava dinheiro para mim. Eu não tinha lucros e nem mesmo uma retirada fixa. Em parte a culpa era minha por imaturidade, ausência de capital, falta de planejamento etc. Em parte era do próprio seguimento, do mercado e de outros fatores que não vale a pena aqui ficar discutindo. Acontece que resolvi muar de vida e aqui estou na advocacia. E foi para melhor. E é aqui que eu acho que poderei lhe dar alguma dica.
    1) Network - A grande diferença que vejo entre nós é que quando eu fui advogar eu já tinha uma enorme gama de contatos, de clientes mesmo. A maioria das minhas causas foram de pessoas que já eram meus clientes antes na empresa que eu tinha (ramo de tecnologia) e que confiaram no meu trabalho. O povo dá a isso um nome sofisticado e americanizado: Network. Pois é, essa network, que são nossos contatos é que faz toda a diferença. Se ninguém te conhece ou se as pessoas do seu círculo não tem potencial jurídico (isto é, não tem dinheiro, não tem negócios, não tem empresas enfim, não tem negócios jurídicos), fica muito difícil ter serviço e principalmente, receber pelos serviços. Imagine que seu cliente é um vizinho ou conhecido do ônibus que vem te falar que o banco está cobrando dele um empréstimo (que ele deve de verdade) ou que ele tem uma mãe que quer se aposentar (mas não preenche os requisitos) ou ainda, que comprou um carro muito velho de um particular e que agora está dando problema e por isso ele não pagou etc. Ou ainda um que quer a revisão de seu financiamento porque ouviu na rádio que os juros são abusivos e que pode receber até 10 mil reais de volta. Me desculpe a franqueza, mas são péssimos casos e clientes que não tem potencial a curto prazo. Por outro lado, se seu cliente é um microempresário, quase sempre ele terá alguns cheques devolvidos para receber, alguma demanda trabalhista, um contrato para ser analisado, enfim, há potencial. Claro que estou sendo limitado nessa perspectiva, mas a título de exemplo é a verdade. Colegas meus que são advogados e cujos clientes são limitados à pessoas do bairro, demoraram muito para crescer e ter retorno.
    Não estou querendo dizer com isso, que não se deve advogar para clientes pobres. Aliás, tenho clientes pobres que me renderam muito mais do que clientes de alta classe, mas são esporádicos.
    Enfim, o que quero dizer com tudo isso e aproveitando o que disse o colega Zimmermann é que você deve saber conduzir sua vida profissional para atrair, multiplicar e manter um bom número de clientes com potencial.
    2) Despesas - Durante muito tempo eu tive duas profissões, pois se eu fosse depender só da advocacia no início, estaria perdido! Eu já tinha família, filhos e uma enorme despesa e não poderia ficar sem faturar um dia sequer. Por isso a primeira coisa que fiz foi cortar praticamente todas as despesas possíveis. Logo próximo de me formar, fechei minha empresa, mandei empregados embora e paguei todas as contas pessoais. Bancos e tributos ficaram para depois, afinal era eu e minha família ou eles, (Estado e o Bradesco, Itaú etc.). Não abri escritório nem aluguei loja, trabalhava em casa à noite e durante o dia, quando necessário, ia até os clientes. Fiz isso durante alguns anos. Depois consegui uma parceria com um antigo professor, que me cedia uma mesa em seu escritório sem nenhuma despesa, mas as causas que eu levasse eram partilhadas um pouco menos de 50% para mim e nas dele que eu atuava a mesma coisa. No início foi uma ótima oportunidade, pois eu não tinha despesas e além disso tinha um "point" para atender clientes e uma força de alguém experiente.
    Eu entendo sua vontade em ter seu próprio escritório etc., mas creio que o ideal em um começo de carreira é se juntar a um escritório maior com o mínimo de despesas para você, até que ganhe experiência, amplie sua network e aí sim, depois de uns 4 ou 5 anos já inserido no mercado, parta para uma coisa sua. Foi isso que fiz e foi isso que vi muitos colegas fazendo (que deram certo). É que trabalhando num escritório com gente mais experiente você vai conhecer mais pessoas, aprender com gente experiente sobre advogar, conhecer juízes, promotores, servidores etc., e até mesmo vai aprender a cobrar!
    É claro que você vai se sentir explorado (e vai ser mesmo), mas esse é o custo para iniciar da forma mais fácil. A forma mais difícil é como você está fazendo agora.
    3) Renda - O ideal é que você tenha algum apoio no início. Se seus pais não podem lhe ajudar, arrume algo que lhe forneça renda extra. Talvez no início a advocacia deva ficar em segundo plano até que naturalmente a demanda cresça ao ponto de não precisar mais ter outra profissão. Tente também focar em alguns clientes que possam lhe dar uma renda fixa mensal, como consultorias por exemplo. A área tributária, trabalhista e civil são boas nisso,uma vez que muitas empresas demandam advogados fixos e você pode fazer muitas parcerias que lhe renderam pelo menos uma renda de 1 a 2 mil reais por mês. Veja: uma empresa pequena com 20 empregados consegue lhe pagar entre 300 e 900 reais por mês para uma consultoria sem problemas, sendo que você ainda pode estabelecer que no caso de ações judiciais que ela seja ré, irá cobrar uma taxa fixa de 1 salário ou mais. Enfim, você terá trabalho, um cliente fixo e a garantia de advogar para ele em eventuais ações. Talvez trabalhar em casa, com uma plaquinha de fora com seu telefone será muito melhor do que ter gastos fixos numa situação que não lhe gera nenhum retorno. Ah! Um advogado jamais deve mudar seu número de celular!

    Acho importante que você converse com seus sócios sobre o que está sentindo, abra o jogo com eles. E se for o caso, analisando tudo, caia fora e evite se endividar mais. Não tenha vergonha de recuar, isso é estratégia e não fracasso. Fracasso é passar num concurso para juiz e ter uma vida frustrada, ou ainda, achar que dinheiro É a coisa mais importante de todas. Quem acompanhar seu crescimento, de advogado iniciante que faz bico para sobreviver até o dia em que você terá seu próprio e rentável escritório, lhe admirará.

    Por fim, vai uma palavra de conforto de alguém que já passou por situações muito difíceis e que não pareciam ter saída: nada como um dia após o outro, o tempo cura tudo! Por isso, não se desespere. Falo com propriedade, pois já tive busca e apreensão de carro que eu utilizava para trabalhar, fiquei devendo bancos, tive conta de luz cortada por falta de pagamento, teve dia que o único dinheiro que tinha era o que estava na carteira (coisa de 150 reais), com dois filhos e uma esposa para sustentar. Mas sempre, sempre, o telefone tocava com um serviço para fazer que me tirava do sufoco.

    Espero que de alguma forma você e outros que lerem este tópico, tirem algum proveito.

    Um abraço, boa sorte e que você faça da advocacia um modo de pacificação social e não o contrário, como alguns colegas lamentavelmente conduzem os processos.
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