Independência Ou Morte!

Discussão em 'Artigos Jurídicos' iniciado por Denis Caramigo, 10 de Janeiro de 2014.

  1. Denis Caramigo

    Denis Caramigo Twitter: @deniscaramigo

    Mensagens:
    25
    Sexo:
    Masculino
    Estado:
    São Paulo
    [SIZE=18pt]Independência ou morte![/SIZE]
     ​
    [SIZE=14pt]Um breve esboço da problemática questão da dependência química e sua prevenção[/SIZE]
     ​
    [SIZE=12pt]Denis Caramigo / Ednea Dias[/SIZE]


    “Desde os primórdios, até hoje em dia, o homem ainda faz o que o macaco fazia”. O progresso é um fato comum no nosso dia a dia, entretanto, entendemos que é possível relacionarmos diversas situações super evoluídas com situações da antiguidade.

    O homem primitivo da caverna deu o pontapé inicial ao uso das drogas com os cogumelos psicodélicos.  No fim do século XIX, muitos produtos viraram, em laboratórios, drogas sintetizadas. A vida humana interage num metabolismo complexo com toda a vida natural e, ao transformá-la, também transforma a si mesma. Somente no século XX, nos EUA, é que começaram a surgir proibições globais ao uso de, a princípio, entorpecentes.

    Os nossos exemplos em cinemas e televisão nos mostram que o bem ou mal não estão tão fortemente de lados opostos, pois hoje, em muitas situações, torcemos para os vilões e, muitas vezes, eles são mais queridos que os heróis. O Coringa, Conde Drácula, Freddy Krueger... Hoje, na vida real, quem usa droga nem sempre é visto, principalmente para a camada menos abastadas da sociedade, como vilão.

    As pessoas envolvidas no uso são pessoas confiáveis. Sim, confiáveis. Muitas vezes os melhores amigos, outras vezes os mais populares, os únicos que nos compreendem, os que nos identificamos. “Encontrei minha tribo” – pessoas que me entendem, que têm os mesmos gostos, que pensam como eu, que não me criticam, que me aceitam como eu sou e, até mesmo, que enxergam atitudes positivas em “mim”, me elogiam. Ele tem isso em casa?. Provavelmente não.

    Com isso, temos a clara percepção da falência do papel da família na formação estrutural-psicológica desse ser humano.

    Se a matemática que é tão lógica não é compreensível para muitos jovens, como fazê-lo entender que o uso de uma substância que lhe acarreta o bem estar, muitas vezes de imediato, poderá ser muito nociva no futuro (e porque não em um presente constante)? Como fazê-lo entender que ele pode enfrentar uma situação nova ao ser “obrigado” por ele mesmo a usar uma substância que não lhe traz mais prazer? Que sua vontade, por maior que seja, perde para a sua necessidade de usar a droga. Ele nunca viveu isso, ele tem a ideia que isso nunca vai acontecer, que ele sempre vai manter o controle da situação. “Eu paro quando eu quiser” essa é a frase mais ouvida entre os jovens que abusam do uso da substância.

    Talvez seja por isso que é tão difícil a conscientização, aceitação e aderência ao programa de prevenção ao uso de drogas, seja por quem usa, ou seja pelo Estado, que muitas vezes trata o tema de forma completamente errônea.
     
    Neste texto vamos dar foco, de forma breve e objetiva, na prevenção do uso de drogas. A prevenção ao uso de drogas é dividida em 3 fases.

    A prevenção primária: busca evitar a fase da paquera com droga. É a fase que a pessoa vai sendo seduzida por ela, vai se aproximando, tendo noção do bem estar que ela pode trazer.

    “O primeiro contato que tive com as drogas foi com amigos, aos 15 anos de idade, e não possuia muita informação sobre elas e o que era a dependência química. Pelo fato de não ter esse conhecimento e nenhum exemplo por perto, pois nunca havia tido contato com nenhum dependente que houvesse chegado ao “fundo do poço”, nunca acreditei que me tornaria dependente”. (R.S.I)*

    Pense no comercial da cerveja, sempre muito festivo, com pessoas bonitas e felizes. As pessoas sentem vontade de entrar nesse mundo pelo simples fato do cérebro associar, involuntariamente, aquela imagem que vê com o uso da substância nociva.

    O papel de prevenção primária que o Estado deveria fazer, aqui é totalmente o inverso. Ele estimula o uso, de forma implícita e desleal, para depois trazer o problema, que ele mesmo criou, para si. É como se alguém clonasse o próprio cartão de crédito e contratasse um advogado para apurar o fato. Não tem nexo!

    O objetivo da prevenção primária é evitar que o uso de drogas se instale ou retardar o seu início. É o conjunto de ações que visam evitar o adoecer, além de promover a saúde. E é aqui, na nossa visão, que o Estado tem que agir de forma eficaz e não de forma irresponsável como vem agindo.

    Que temos problemas e deficiências para isso, todos nós sabemos, mas temos que arregaçar as mangas, diante da inércia do sistema estatal, e começar pelo caminho inverso, se for o caso, para almejarmos uma eficácia real na fase preventiva. E o que é “caminho inverso”?

    Hoje, e sempre, a fase da prevenção primária vem sendo feita de baixo para cima, ou seja, começa sempre nas camadas menos abastadas da sociedade. Pensamos da seguinte forma: a prevenção desta forma é válida, mas não pode ser a única, pois “desde os primórdios” ela é feita e os resultados não estão sendo satisfatórios. Esta fase de prevenção tem que ser muito bem feita, ao nosso ver, quando se ainda é criança (aqui dos 8 aos 12 anos incompletos) onde ela (a criança) começa a ter discernimento e conhecimento daquilo que se apresenta como “o novo”.
    “A maconha era uma droga leve, legal e na moda. Na época uma banda que exaltava o entorpecente estava “estourando”. Hoje percebo que tinha uma necessidade pessoal de ser aceito por determinados grupos e então passei a fumar maconha”. (R.S.I)*

    E é nessa fase que temos uma visão de prevenção primária, onde, esta, deve-se começar de cima para baixo.

    Pensamos que as medidas de prevenção devem ser intensificadas, também, nas camadas mais nobres, pois nela o acesso a informação, educação e cultura de qualidade é mais amplo. Desta forma, mesmo ainda criança, fortalecerá suas bases para que se faça algo efetivo neste assunto. Vale ressaltar, também, que é, na maioria das vezes, na camada nobre que “surgem” os grandes fornecedores de drogas.

    Pensamos em uma prevenção primária, onde, deve-se levar para a camada de “cima” os efeitos reais que a camada de “baixo” sofre. Óbvio que sabemos que existem pessoas com problemas de dependência em todas as camadas, mas é comprovadamente na malha popular da sociedade que o problema é mais presente.

    Deixamos claro que não estamos sendo discriminatórios em relação às pessoas mais carentes em nossa colocação, mas é uma realidade que se vive e que, infelizmente, não estamos colhendo bons frutos. Em outra oportunidade, falaremos mais detalhadamente desta visão que temos.

    “Passei a ter como referência de comportamento estes novos “amigos” dos grupos que passei a frequentar. Nesta fase de paquera, a cocaína ainda estava distante, pois na minha cabeça era uma droga muito forte e o crack uma droga de “nóia”, de pessoas muito loucas e que não eu nunca usaria na minha vida”. (R.S.I)*

    Prevenção Secundária: é indicada para o indivíduo que começou o namoro com a droga. O namoro envolve compromisso. É como se a pessoa saísse para encontrar a droga. O namoro ainda tem seus encantamentos, surpresas, exageros, paixões, expectativas, querer o reencontro. Nesta fase, obviamente, a fase primária não existiu ou, se existiu, não funcionou por algum fator. Pois bem, quando o indivíduo começa um namoro com a droga, ele entra nessa fase de compromisso agradável, com alguns exageros, faz questão de estar próximo a ela da mesma forma de quem namora quer estar com o namorado(a). Quem usa drogas quer fumar, cheirar, beber...

    “Rapidamente já senti a necessidade de comprar a minha própria droga, pois não conseguia depender dos outros, queria usar a hora que me desse vontade. Este foi o início da minha fase de namoro com as drogas. Fui apresentado para as “bocadas e comecei a andar com pessoas que não usavam apenas maconha, usavam outros tipos de drogas”. (R.S.I)*

    Prevenção secundária destina-se a pessoas que já experimentaram drogas ou usam-nas moderadamente. Tem como objetivo evitar a evolução para usos mais frequentes e prejudiciais. Isso implica um diagnóstico e o reconhecimento precoce daqueles que estão em risco de evoluir para usos mais prejudiciais.

    Nesta fase, a prevenção tem que ser feita de forma avassaladora, pois é nela que a pessoa larga ou se apega de vez às drogas. Aqui o papel da família, dos amigos e programas sociais, efetivos e de qualidade, é fundamental.

    “Pelo convívio com pessoas que usavam as mais diversas drogas e tendo fácil acesso a elas, foi questão de tempo para que experimentasse a cocaína. A maconha acabou sendo a porta de entrada para o relacionamento com o tráfico de drogas e as drogas mais “pesadas”. Através dela conheci pessoas que utilizavam outras drogas e pelo relacionamento diário com essas pessoas usando essas drogas, meus conceitos de que eram pesadas e o medo de utilizá-las foram embora”. (R.S.I)*

    Prevenção Terciária: o casamento com a droga acontece nessa fase, agora o amor não é mais o responsável pelo vínculo e sim a dependência. Quando se casa é que se conhece o cônjuge, da mesma forma, quando se casa com a droga é que se conhecem os pontos negativos.

    “Meu casamento com as drogas começou a partir do momento em que comecei a usar cocaína frequentemente. Nesse ponto, tudo que havia aprendido com meus pais sobre o que era certo e errado ficou distorcido. Pequenos furtos, tráfico de drogas, mentiras e manipulações eram normais. Meu pais descobriram o uso e por mais que tentassem me controlar, nada funcionava, eu afundava cada vez mais, passei a usar todos os tipos de drogas e bebida”. (R.S.I)*

    Não encontra-se solução para esse casamento. A separação acontece por um tempo mas percebe-se quão difícil é a separação definitiva. A qualquer momento a relação difícil pode se restabelecer e vem com a mesma força e dependência do ponto de onde parou o uso. Isso significa que o vício fica adormecido e a qualquer momento que reativar o uso, voltará na mesma força que estava quando parou ao invés de voltar do ponto de partida.  

    “Isso tudo fez com que meus pais se preocupassem e me obrigassem a passar por diversos tipos de tratamento. Eu os fazia para agradá-los e disfarçar para poder continuar usando tranquilamente. Nestes tratamentos absorvi muita informação sobre dependência química. Eu não acreditava ser um dependente, não percebia as consequências que o uso estava trazendo em minha vida e achava que pararia quando quisesse.
    Este auto-engano me fez chegar ao “meu fundo de poço”, tentei parar diversas vezes e de diversas formas, mas nada funcionou”. (R.S.I)*

    Dependência Química

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) através do Código Internacional de Doenças (CID-10),  preconiza que a dependência química é uma enfermidade incurável e progressiva, apesar de poder ser estacionada pela abstinência. Isso significa que é tratada como doença que vai se manter para sempre com a pessoa, assim sendo, não existe “ex dependente” mas sim dependente em abstinência.

    “Então resolvi pedir ajuda, mas desta vez, com um real desejo de parar de usar. Iniciei um tratamento realmente focado e comecei a usar todas as ferramentas, a mim apresentadas, para me manter abstinente” (R.S.I)*.

    Diretrizes da OMS para diagnóstico de Dependência
    1. Forte desejo ou compulsão para usar a substância;
       
    2.  Dificuldade em controlar o consumo da substância, em termos de início, término e quantidade;
       
    3.  Presença da síndrome de abstinência ou uso da substância para evitar o aparecimento dela;
       
    4.  Presença de tolerância, evidenciada pela necessidade de aumentar a quantidade para obter o mesmo efeito anterior;
       
    5.  Abandono progressivo de outros interesses ou prazeres em prol do uso da substância;
       
    6.  Persistência no uso, apesar das diversas consequências danosas.

    As estratégias específicas e globais do tratamento visa prevenir a recaída e a terapia cognitivo comportamental enxerga a recaída como fator de estudo e readaptação das técnicas, ao invés de punir o paciente.  São três categorias principais: treinamento de habilidades, reestruturação cognitiva e intervenção no estilo de vida. A prevenção de recaída segue um manual de mudanças de comportamentos que inclui um estudo individualizado de situações de risco, motivação, para, então, definir os novos hábitos a serem adquiridos e posterior enfrentamento das situações de risco. Aqui estamos falando de prevenção terciária e permanente.

    “O meu relacionamento com a família foi retomado e estou assumindo responsabilidades que jamais pensei em tê-las. Com relação aos antigos “amigos”, me afastei de todos e estou  em um processo de fazer novas amizades”. (R.S.I)*

    O jovem busca a droga para ter a sensação de bem estar, portanto, o tratamento ao dependente químico é voltado à sua dificuldade emocional. Se o jovem está deprimido, ansioso, ou outro sintoma negativo, ele usa a droga para não ter, por alguns instantes, esse sentimento ruim. Assim sendo, o tratamento inclui o entendimento de seus conflitos emocionais, o motivo pelo qual o adicto precisa dessa dose artificial de prazer. Por fim, o tratamento inclui a descoberta e prática dos prazeres da vida.


    *R.S.I, 30 anos, dependente químico. Está 2 anos em abstinência após passar 7 meses em tratamento intensivo em clínica de reabilitação. Tem uma vida, social e profissional, normal contribuindo com seu testemunho em programas voluntários de prevenção às drogas.


    Denis Caramigo
    Twitter: @deniscaramigo

    Ednea Dias
    Twitter: @DiasParaViver




    [SIZE=8pt]http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/conteudo/index.php?id_conteudo=11431&rastro=PREVEN%C3%87%C3%83O%2FTipos+de+Preven%C3%A7%C3%A3o/Preven%C3%A7%C3%A3o+prim%C3%A1ria%2C+secundaria+e+terci%C3%A1ria[/SIZE]



    O texto acima pode ser lido, também, nos sites abaixo:

    http://jornal.jurid.com.br/materias/doutrina-geral/independencia-ou-morte

    http://www.margarethmattos.com/p/artigos_10.html
    Fernando Zimmermann curtiu isso.
Tópicos Similares: Independência Morte
Forum Título Dia
Notícias e Jurisprudências Forma De Escolha De Ministros Do Stf Não Compromete Independência Da Corte 15 de Setembro de 2011
Direito de Família Modelo Ação Declaratória de União Estável Post Mortem 15 de Abril de 2024
Notícias e Jurisprudências Pais são indenizados por morte de filho 22 de Maio de 2023
Notícias e Jurisprudências Casal deverá ser indenizado em R$ 180 mil por morte do feto em parto 22 de Maio de 2023
Direito Civil, Empresarial e do Consumidor Morte de Associado 06 de Maio de 2023