De uns tempos pra cá estou recebendo a ligação de diversos amigos com quem trabalhei, sendo que a maioria está desempregada. Após os cumprimentos de praxe vão direito ao ponto e perguntam como estão meus negócios, se minha carteira de clientes está consolidada, se vale a pena ser autônomo e se posso dar algumas dicas.
Percebo que estão receosos, além de descrentes, pois não têm perspectivas de serem recontratados imediatamente. Como tudo na vida estão cogitando partir para o plano “b”, o mesmo que coloquei em prática há alguns anos, após ser dispensado do meu último emprego.
No entanto, como posso orientar corretamente alguém se não sou coaching e estou por fora dos requisitos que estão sendo exigidos pelos recrutadores?
Tento de certa forma agir como um pai que orienta o filho, dando conselhos que provavelmente não serão seguidos. Na verdade conto a eles como passei de empregado a autônomo, fazendo questão de apontar as pedras existentes no caminho.
Como minha única expertise é orientar as pessoas acerca dos que elas podem ou não fazer, mas sob o ponto de vista jurídico, tento expor o que ocorreu comigo, que me perdoem os jornalistas pelo jargão, expondo os fatos para que tirem as conclusões.
Num primeiro momento digo que irão sobreviver. Para o leitor esta afirmação pode parecer banal, mas estar desempregado no Brasil, numa época de crise, é realmente motivo de preocupação.
Exponho o que eles já sabem, que nunca fui autônomo, pois desde os meus catorze anos de idade atuei como empregado. De lá pra cá tive poucos empregos e a felicidade de tomar a iniciativa de sair de todos. Ocorre que, como dizem, sempre há a primeira vez e a minha chegou. Eu nunca havia sentido o gosto, amargo diga-se de passagem, de ser dispensado.
Dando continuidade ao colóquio confidencio a eles que na época me senti mal, desvalorizado e incapaz, embora não tenha ficado desesperado, até por que as contas estavam em dia e afinal eu tinha recebido os valores decorrentes da rescisão.
Demonstro a eles que o tempo foi passando e pude perceber que o muro a ser transposto estava bem mais alto. Se antes meu inglês intermediário quebrava o galho, agora pelo que sei estão exigindo, além da fluência, francês, mandarim, graduação numa faculdade de primeira linha, além de pós.
Na época eu tinha apenas uma pós. A faculdade em que me formei, embora tradicional na região e existente há décadas, não era “de primeira linha” ao ver deles, ou seja, não me formei na USP, tampouco na PUC. O que fazer, deveria desistir? Como poderia demonstrar que poderia concorrer de igual para igual com qualquer um? Os meus cursos de extensão não mais valiam? E a minha experiência?
Enfim, continuei buscando recolocação e obtive êxito em alguns processos seletivos, mas os salários oferecidos estavam tão defasados que resolvi ficar um pouco mais em casa, tentando a sorte.
Ocorre que com o passar do tempo, casa para sustentar e filhos, não podia mais me dar ao luxo de ficar esperando uma ligação. Sendo assim voltei a unir o útil ao agradável, ou seja, voltei a fazer o que gosto, advogar.
No entanto, alguns serviços foram realizados apenas para que eu pudesse obter remuneração, pois meu objetivo ainda era arrumar um bom emprego.
Quando atingi o oitavo mês a contar da dispensa comecei a ficar realmente preocupado. Os convites para as entrevistas diminuíram sensivelmente; algumas das propostas eram aviltantes. A partir desse momento comecei a pensar em ser autônomo, em abrir meu próprio escritório, como de fato abri.
Hoje digo a meus amigos que continuo feliz e estou realizado na profissão. Trabalho bem mais que antes, mas ainda recebo menos. Meu horário é flexível, mas minha jornada é maior. Preocupações antes inexistentes, como a administração do escritório, pagamento de aluguel e até com economia de materiais se tornaram realidade.
Contudo hoje posso afirmar que vale a pena ser autônomo, embora pelo menos para mim as preocupações sejam maiores. Se antes eu analisava, redigia e opinava acerca de contratos envolvendo grandes quantias, hoje lido com patrimônios menores, mas não menos importantes para meus clientes. Dá gosto vê-los satisfeitos após a entrega de um serviço bem feito.
Tenho pra mim, e tentando responder à pergunta que inseri no título, que atualmente prefiro ser autônomo, mas digo isto não por despeito por não ter arrumado o emprego que queria, mas também e simplesmente por estar tendo a oportunidade de ver o mundo sob outro enfoque.
Ademais, ao menos por enquanto continuarei tentando vencer, se me permitem o trocadilho, autonomamente, pois como dizem, “a perseverança é a virtude pela qual todas as outras dão fruto”.
Espero de coração ter conseguido ajudar meus amigos neste momento de dificuldades.
Advocacia André Pereira
Tópicos Similares: Autônomo Empregado
A Principal Diferença Entre O Representante Comercial Autônomo E Vendedor Empregado | ||
Execução de alimentos - alimentante autônomo | ||
servidor público e trabalho autônomo | ||
Como comprovar Renda de Autônomo? (Justiça Gratuita) | ||
Autônomo - Ferramentas trancadas pelo cliente |